27 dezembro 2013

Xerife dos EUA tortura presos com canções de Natal




A população prisional de uma cadeia situada no Estado norte-americano do Arizona teve de ouvir durante 24 horas por dia, contra vontade, canções como "Jingle Bells" e "Stille Nacht" em interpretações mais ou menos pimbas. Pelo menos seis presos procederam judicialmente contra a violência de que se consideram vítimas.


A ideia foi do "mais duro xerife da América", como Joe Arpaio gosta de ser alcunhado , que já há oito anos ensaiara este meio para, alegadamente, proporcionar uma alegria aos presos e suscitar neles um espírito natalício. E já na altura se levantaram vozes críticas.


Os motivos de queixa eram de vária ordem, e continuam a ser. Por um lado, há a "maratona de canções de Natal", ininterruptamente impostas aos ouvidos de presos que não têm, em princípio, para onde fugir - e mesmo o que é bom precisa de conta, peso e medida.


Por outro lado, está a qualidade duvidosa das interpretações escolhidas, de grupos fracamente conceituados, como os "Alvin and Chipmunks" - equivalentes locais da música pimba.


E, acima de tudo, está o abuso cometido contra confissões religiosas não cristãs, existentes na população prisional, ou contra presos que não têm qualquer religião. Seis presos queixaram-se judicialmente com este fundamento, mas o tribunal não atendeu à queixa.


E, no entanto, a pressão contra a tortura pelas canções natalícias obrigou o "xerife mais duro" a recuar em várias frentes. Numa delas, tinha já mandado incluir no reportório canções destinadas a mórmones, judeus e ateus. Claro que este recuo, já levado a cabo após o primeiro ensaio para a maratona musical natalícia, não tinha em conta que o Natal não é festejado por judeus nem por ateus. E deixava de fora outros credos religiosos, como o islâmico.


Numa outra frente, Joe Arpaio viu-se agora obrigado a reduzir a tortura - também do sono - a quatro horas por dia, duas de manhã e duas à noite. No twitter anunciou-o como triste notícia, que privaria os reclusos de uma das alegrias do cárcere.


As concessões que Arpaio teve de fazer desta vez à pressão dos grupos de direitos humanos inserem-se numa longa série de conflitos com os seus concidadãos mais críticos. Estes têm-lhe apontado sucessivas medidas contra os presos, como foi a eliminação dos pratos de carne na cantina da prisão ou o alojamento de parte dos presos em tendas, sob tempraturas de verão insuportáveis - ambas medidas destinadas a poupar dinheiro.


Outras são medidas sem significado orçamental, mas que denotam uma intenção de humilhar os presos: Arpaio tem-lhes distribuído cuecas listadas a preto e branco, segundo o estereótipo da indumentária prisional.


O xerife não deixa, entretanto, de gracejar com a situação dos 8.500 presos que tem sob a sua responsabilidade, afirmando que pediu ao Pai Natal "uma nova cadeia", e logo acrescentando que "tudo o que recebi foi uma guloseima".


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários postados pelos leitores deste blog correspondem a opinião e são responsabilidade dos respectivos comentaristas.