01 março 2016

'Ele não era bandido', diz esposa de agente que matou PM em Itirapina, SP


Agente penitenciário Marcos Silva morreu no
último dia 20 (Foto: Sueli Silva/Arquivo Pessoal)

“Precisam reconhecer que foi uma fatalidade, uma tragédia, e ele também deixou família. Eu sinto muito pela vida do policial, mas o Marcos morreu porque estava doente, tinha depressão, e ele também era um agente de segurança, não era um bandido”. A declaração é da doméstica Sueli Silva, de 43 anos, esposa do agente penitenciário Marcos José Silva, de 44 anos, que morreu após trocar tiros com a Polícia Militar (PM) no dia 20 de fevereiro, em Itirapina (SP).

Segundo a corporação, o agente atirou contra os policiais e um dos tiros atingiu o sargento Júlio César Zorzetti, de 40 anos, que morreu na hora.

O caso aconteceu por volta das 2h, no bairro Nova Itirapina. Segundo Sueli, o marido, que era agente penitenciário há 23 anos, tomava remédios para tratar depressão e alcoolismo. Ela contou que Marcos estava há seis meses sem ingerir álcool e teve um surto após beber.

“A gente tinha discutido porque ele estava transtornado, estava atirando com a espingarda de chumbinho e atirou na minha perna. Eu entreguei para a polícia mais de 50 cópias de receitas dele, de tratamento e de remédio. Ele era uma pessoa boa, foi muito bom pai e marido também. Tinha as crises dele, mas nunca me agrediu. Ele apenas surtou”, contou.


Após ser atingida, Sueli foi para o hospital da cidade e deixou o agente sozinho em casa. “O hospital chamou a PM. O policial que faleceu foi lá pedir a chave da minha casa. Na hora, disse que não estava comigo, mas depois falei que a minha irmã ia junto acompanhar. Orientei o policial a pedir para a minha irmã chamar o Marcos pelo nome antes de entrar na casa, mas quando chegou lá ela teve que ficar de longe. E ela não consegue dizer o que aconteceu porque não deixaram chegar perto de casa”.

Segundo a PM, o agente penitenciário foi o primeiro a atirar, durante a negociação. Após o disparo, os policiais revidaram e o agente foi atingido. “Ele estava em uma posição privilegiada, estava no escuro e os policiais na entrada, e acabou efetuando um disparo do nada”, disse o capitão Ademar Gregolim.
Casal estava junto há 14 anos e tem uma filha
de 11 anos (Foto: Sueli Silva/Arquivo Pessoal)

Repercussão
O caso teve uma grande repercussão na cidade. “Não foi proposital, não foi planejado. A minha casa virou um ponto turístico, todo mundo vem aqui no portão. Ele morreu aqui dentro e ninguém está enxergando o meu lado e da minha filha. Fazem a gente de vagabundo, de marginal, de ladrão. Estão nos bombardeando para todo lado. Isso é para humilhar a gente demais”, declarou Sueli.

O casal estava junto há 14 anos e tem uma filha de 11 anos, que está afastada da escola e recebendo atendimento psicológico desde o ocorrido. O agente também criou o filho mais velho de Sueli desde os cinco anos.
Ele morreu aqui dentro e
ninguém está enxergando o
meu lado e da minha filha. Fazem
a gente de vagabundo, de
marginal, de ladrão. Estão nos bombardeando para todo lado"
Sueli Silva, doméstica

“Era o melhor pai do mundo. Ele trocou de horário e começou a trabalhar à noite para poder ficar com nossa filha, porque eu trabalho de dia. Ele dizia que não queria deixar a filhinha dele na mão de ninguém, que a responsabilidade da educação tinha que ser dele. Onde ele ia a filha estava junto. Agora ela está uma criança seca, trancada em casa, não quer falar e não chora. No hospital, tiraram foto dele morto, imagina se mostram isso para a minha filha?”, questionou a doméstica.

Ainda de acordo com Sueli, o marido foi lixeiro na cidade antes de ser aprovado no concurso de agente penitenciário e, em 23 anos de profissão, nunca teve nenhum problema no trabalho.

“Não sei se sabiam que ele tinha esse problema, porque ele sempre deixou claro que não levava nada do serviço para casa e nem de casa para o serviço. Ele nasceu em Itirapina, quem conhece ele sabe disso, que nunca teve um boletim de ocorrência, nunca foi parado pela polícia nem nada. Ele também foi uma pessoa vitoriosa, ele não merece ser rebaixado desse jeito”, finalizou.

Secretaria da Administração Penitenciária
A assessoria de imprensa da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que Marcos José da Silva estava de férias e que "há mais de um ano não registrava ausências no trabalho em decorrência de licença médica para tratamento de saúde".
Ação deixou marcas no portão da casa do agente
e em imóveis vizinhos (Foto: Marlon Tavoni/EPTV)

Ainda de acordo com a SAP, o agente "estava trabalhando normalmente e desempenhando muito bem suas funções no período noturno junto à Ala de Progressão Penitenciária na Penitenciária 'João Batista de Arruda Sampaio', de Itirapina". A secretaria ainda ressaltou que desde 2012 Marcos não possuía porte de arma.

Segundo a SAP, a Unidade Prisional conta com psicólogo, que tem como principal atividade o atendimento a presos. Porém, quando servidores sentem necessidade, também podem obter orientações desse profissional. Há ainda o Centro Regional de Qualidade de Vida e Saúde do Servidor em todas as Coordenadorias de Unidades Prisionais do Estado, com profissionais de várias áreas, entre elas psicologia.

O G1 também procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para questionar sobre o tipo de arma que o agente usou para disparar contra o policial, se foram apreendidas outras armas na casa, qual o procedimento correto em um caso de surto, por que o agente estava com as mãos feridas e por que a cunhada foi impedida de falar com Marcos Silva, mas a secretaria não se manifestou.


Fonte G1

4 comentários:

  1. Meus sentimentos a família do Marcos e a do policial também, pois ao contrário do que muitos imaginam estamos do mesmo lado e contra o mesmo inimigo, o "criminoso, o estuprador, o pedófilo, o assaltante e muitos outros marginais que todos conhecemos", porque citei esses "inimigos". Porque trabalhei em uma cadeia onde eu entrava sozinho no raio para soltar e trancar uns 400 presos onde tinha de tudo o que é vagabundo misturado, e de vez em quando ouvia uma ameaça aqui, sofri uma tentativa de agressão por parte de um único detento que era medida de segurança, mais alguns presos não deixaram,talvez devido ao nosso cotidiano onde um respeitava o outro, não sei., então é lamentável quando ouvimos boatos de que o agente matou policial ou vice versa, foi realmente uma fatalidade como a esposa do companheiro falou, se ele estava com depressão e tomando diversos remédios, acredito nas palavras dela, foi realmente uma fatalidade e com certeza nenhum dos dois queria que tivesse terminado assim, só tenho que lamentar realmente porque perdemos dois guerreiros que combatiam o mesmo mal. Que Deus possa confortar essas crianças e que tenham um futuro melhor e mais seguro, Amém

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  2. A intenção da SAP pode até ser boa, não sei se inclusive a Secretaria sabe, mas na unidade em que trabalho, psicólogo, médico, enfermeiro e medicação que vem do Estado é só pra presos mesmo, o funcionário tem que levar medicação de casa ou ir para um hospital, nem um remédio pra dor de cabeça é fornecido pra funcionário, e atendimento psicológico, já falaram que a secretaria não fornece, desencontro de informações, ou má vontade

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  3. Cara sou Agente tambem a quase trinta anos e vos digo ja vi muitos companheiros surtar de vdd , se suicidar matar , por causas psíquicas causadas pelo próprio trabalho que realiza, sabemos que não é facil trabalhar numa penitenciaria com picopatas assassinos pedofilos etc etc que tem muito mais direitos que um profissional que acorda cedo vai trabalhar num lugr sem segurança nehuma somos traumatizados todos os dias e tem amigos que não conseguem segurar a rotina , este guarda que deus tenha foi apenas ma vitima do sistema mostra como somos a, não é m bandido pelo contrario um bom funcionario m bm pai uma boa peoa . Mas ão conseguiu segurar a pressão que o sistema tras pra aqueles que ali passam mais tempo do que cm suas famílias. #sóaxo#

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